Controle glicêmico inadequado na infância associado à menor altura na vida adulta

Controle glicêmico inadequado na infância associado à menor altura na vida adulta.

DestaqueEstudo investigou o impacto do controle glicêmico, do sexo e da idade ao início do diabetes tipo 1 sobre a altura na idade adulta. Os resultados mostram que controle glicêmico inadequado está associado a menor altura em adultos, especialmente nos casos de diabetes iniciados antes da puberdade. Para mulheres, o período pré-puberal tem maior impacto na altura final.Metodologia
  • Estudo de coorte usou dados de indivíduos com diabetes tipo 1 na infância inscritos no registro sueco National Diabetes Register (NDR).
  • A análise incluiu indivíduos nascidos na Suécia entre 1982 e 2002, registrados durante a infância.
  • O período de acompanhamento se iniciou ao primeiro registro de diabetes tipo 1 no NDR e terminou aos 20 anos (homens) e 18 anos (mulheres), definidos como início da idade adulta.
  • Foram excluídos indivíduos sem dados de altura na idade adulta e com registros de emigração ou imigração antes da idade adulta.
  • O controle glicêmico foi medido por valores de hemoglobina glicada (HbA1c) em consultas relacionadas ao diabetes tipo 1 — incluindo check-ups de rotina e hospitalizações —, e foi classificado como ótimo (< 53 mmol/mol), subótimo (de 53 a 75 mmol/mol) ou inadequado (> 75 mmol/mol).
  • Também foram coletados os valores médios de HbA1c como variável contínua, o tempo com controle glicêmico ruim (anos com HbA1c > 75 mmol/mol) e o controle glicêmico antes, durante e após a puberdade (de 10 a 15 anos para mulheres e de 11 a 16 anos para homens).
  • Os desfechos foram altura final em idade adulta, estatura baixa (definida como escore Z menor que −2 desvios-padrão) e mudança no escore Z de altura, calculada para um subgrupo com dados de altura ao início do diabetes tipo 1.
  • Covariáveis incluídas: idade e ano de início do diabetes tipo 1, comorbidades (outras doenças autoimunes ou asma, por exemplo) e características parentais (história familiar de diabetes tipo 1, altura materna, país de nascimento e escolaridade mais alta).

Principais informações
  • Após a exclusão de 528 indivíduos, a amostra final foi de 12.095 participantes, sendo 6.699 homens (55,4%) e 5.396 mulheres (44,6%).
  • Entre os indivíduos com controle glicêmico inadequado (HbA1c > 75 mmol/mol ou > 9,0%), 51,9% eram homens e 48,1% eram mulheres.
  • Aqueles com controle glicêmico inadequado tinham, em geral, diagnóstico recente de diabetes tipo 1 ou haviam sido diagnosticados há alguns anos, mas tinham mais comorbidades (como doenças autoimunes ou asma).
  • Em média, as mulheres apresentaram início do diabetes mais precoce em comparação com os homens: 8,7 anos versus 9,8 anos, respectivamente.
  • Participantes com controle glicêmico inadequado eram mais baixos na idade adulta:
    • homens: em média, 178,8 cm vs. 181,7 cm com controle adequado;
    • mulheres: em média, 166,4 cm vs. 167,2 cm com controle adequado.
  • A diferença de altura média ajustada foi de −1,59 cm para homens e de −0,94 cm para mulheres.
  • Entre mulheres, o controle glicêmico inadequado antes da puberdade resultou em menor altura na idade adulta (diferença média ajustada de −3,01 cm).
  • Cada aumento de 10 mmol/mol nos níveis de HbA1c reduziu a altura média em 0,7 cm para homens e em 0,5 cm para mulheres.
  • Homens com controle glicêmico inadequado tinham maior risco de baixa estatura (razão de chances ajustada [RCa] = 1,90). Já em mulheres, esse risco não foi significativo (RCa = 0,73).
  • O escore Z para altura desde o diagnóstico até a idade adulta foi negativamente impactado pelo controle glicêmico inadequado, com desvio-padrão variando de −0,19 entre os homens e de −0,12 entre as mulheres.
  • As diferenças de idade ao início da puberdade não modificaram a interpretação dos resultados.
Na práticaO estudo reforça a importância de um controle glicêmico rigoroso em crianças com diabetes tipo 1 para evitar impacto negativo na altura final. Os achados indicam a necessidade de manter um acompanhamento específico por sexo e fase da puberdade para maximizar o crescimento dos pacientes. A ausência de influência significativa da idade de início do diabetes, quando ajustada para o tempo de controle glicêmico, indica que o controle glicêmico inadequado em si — e não a duração da doença — é o principal fator de impacto no crescimento. Assim, orientar os cuidadores e os pacientes sobre a importância de manter bons níveis de HbA1c pode ser fundamental para minimizar os efeitos adversos da doença na estatura, proporcionando uma melhor qualidade de vida aos pacientes.
LimitaçõesOs dados clínicos eram restritos ao registro sueco, e os pesquisadores não tiveram acesso a gráficos de crescimento para calcular a velocidade de crescimento nem informações sobre o estágio puberal. Isso impossibilitou avaliar se o controle glicêmico inadequado afetou a altura na idade adulta por meio de menor velocidade de crescimento puberal. A altura dos pais também não estava disponível, dificultando o ajuste completo para o potencial de altura dos participantes. No entanto, em outros estudos, ajustar para a altura materna e para o país de origem dos pais ou para a presença de diabetes tipo 1 parental não alterou os resultados obtidos.
FonteO estudo foi publicado em 18 de novembro no periódico Journal of Clinical Endrocrinology & Metabolism. O primeiro autor do estudo, Dr. Awad Smew, é afiliado ao departamento de Medicina Epidemiológica e Bioestatística do Karolinska Institutet, na Suécia.
Conflitos de interesses
Os autores não declararam conflitos de interesses.